2 de jul. de 2015

Discografia Comentada: Iced Earth (1988-2014) - Parte 4


James McDonough, Jon Schaffer, Richard Chirsty, Tim Owens e Ralph Santola

Com um álbum semi acabado e muitas dúvidas Jon Schaffer remonta o Iced Earth recrutando Tim "Ripper"Owens nos vocais e Ralph Santola para as guitarras solo e ainda contando com Richard Christy na Bateria e James McDonough no baixo, Schaffer da o acabamento final ao seu projeto mais ambicioso até então, The Glorious Burden basicamente fala de guerras e da história dos Estados Unidos.


The Glorious Burden (2004)






A nova formação impunha respeito, e contar com recém saído vocalista do Judas Priest (até as gravações do disco, Ripper ainda era vocalista da banda inglesa) trouxe muita atenção e expectativa ao trabalho novo.

Musicalmente Schaffer tentava a todo custo desenvolver a uma sonoridade convincente e revitalizada já que Horror Show não correspondia com  a qualidade do passado, a decepcionante perfomance de Matthew Barlow pesava bastante, tanto que em comum acordo Schaffer e Barlow já entendiam que era hora de colocar fim ao ciclo, tanto que os vocais principais foram todos regravados, os backing vocals foram mantidos

A aproximação ao Heavy Metal tradicional e épico foi latente, coros e guitarras harmônicas ocuparam mais o espaço das palhetadas Thrash Metal e vocais melancólicos, como ficou claro na épica Declaration Day, a balada When The Eagle Cries coloca o tema patriótico em alta, uma letra que narra a dor dos atentados de 11/09/2001, apesar de boas músicas elas não refletiam a essência do Iced Earth, porém com o inicio de The Reckoning (Don't Tread On Me) era possível ouvir a banda fazendo o seu melhor, uma perfomance assustadora de Tim Owens e do batera Richard Christy.

O disco vai tomando forma com a trinca Greenface, Attila e Red Baron/Blue Max, canções mais agressivas, ainda que voltadas ao Heavy Metal tradicional, e com um inédito trabalho de harmonias das guitarras, mas a essa altura, o então novo registro trazia muitas interrogações sobre o caminho que o Iced Earth ia trilhar.

Mesmo sendo  diferente, The Glorious Burden era musicalmente mais bem acabado e coeso que o antecessor, mas muitos fãs se negavam a aceitar Ripper como substituto de Barlow, a balada The Hollow Man resgatava um pouco o lado melancólico e Valley Forge apresentava melodias acústicas e guitarras dinâmicas como nunca visto antes,méritos de Ralph Santola que não economiza, a forte Waterloo fechava o track list regular, sem grandes clássicos, mas sem decepções.

Entretanto no segundo disco (para quem tem a edição especial) vinha um dos maiores momentos do Iced Earth, a trilogia Gettysburg (1863)* que narra, em mais de 30 minutos, uma da batalhas mais sangrentas e decisivas da história americana na guerra civl, entre a União e os rebeldes Confederados.

São mais de 30 minutos de uma viagem histórica imperdível, drama, intensidade, peso e competência jorram dos alto falantes, transformando a trinca The Devil To Pay, Hold At All Costs e High Water Mark em clássicos absolutos, com grande perfomance de todos os músicos envolvidos, além de orquestrações e conjuntos de percussões. Tim Owens mostrou seu valor.

Tais experimentos sonoros serviram de base para os dois próximos discos, mas sem o mesmo êxito. 

A Banda

Jon Schaffer (Guitarra)
Tim Owens (Vocais)
Ralph Santola (Guitarra)
James MacDonough (Baixo)
Richard Christy  (Bateria)

Matthew Barlow aparece nos créditos nos backing vocals

*a batalha de Gettysburg

The Reckoning (Don't Tread On Me)




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Jon Schaffer, Tim Owens, Dennis Hayes, Troy Steele e Brent Smedely
Todas as mudanças no Iced Earth geraram desconfiança, e a banda mesmo gravando um bom disco e saindo em turnê ainda lidava com um passado que virou um fantasma, Jon Schaffer tinha uma banda excelente tanto em estúdio como no palco, as vendas eram as melhores da carreira, mas suas composições atuais não se enquadravam ao estilo que o consagrou, essa distância gerou especulações sobre os novos rumos.

Após as saídas de Richard Christy, que se dedicou ao humor, James McDonough que foi recrutado pelo Megadeth para assumir o lugar de David Ellefson e Ralph Santola que não se encaixava a ao estilo de liderança de Schaffer, o mandatário do Iced Earth se viu forçado a reformar a banda em um  processo muito confuso, tendo inúmeros músicos colaborando nas gravações

* todos os músicos que passaram pelo IE, se atentem ao período de 2005 em diante

Framing Armaggedon: Something Wicked Part 1 (2007)




Talvez o maior erro da carreira de Jon Schaffer começa aqui, tentando reviver o passado e montar uma ponte para o futuro apostou todas as fichas para contar a história da trilogia do Something Wicked This Way Comes em dois discos, parecia uma idéia razoável até as coisas sairem da gaveta e chegarem ao mercado.

Framing Armaggedon prometia trazer o som dramático e pesado de volta, mas o que vimos foi um aprofundamento da sonoridade do disco anterior, porém sem a mesma coesão e qualidade, inúmeras passagens acústicas e percussões tribais, aliados a coros épicos, teclados e guitarras harmônicas, logicamente, passagens pesadas e até alguns clássicos  apareceram em meio a tantas mudanças.

Para o novo trabalho, Schaffer conseguiu trazer Brent Smedley na bateria novamente e um antigo amigo, Troy Steele assumiu a guitarra solo (o guitarrista Tim Mills também colaborou com solos e uma composição), Jon se encarregou de gravar a maior parte do baixo, tendo Dennis Heyes, amigo de Tim Owens como responsável para finalizar as demais partes do instrumento, e todos esperavam os resultados do referido vocalista gravando material escrito para sua voz.

Musicalmente Framing Armaggedon é tão confuso quanto sua concepção, a complexidade musical e as diversas influências não casaram bem com o estilo da banda como um todo, gerando altos e baixos que comprometem o resultado final, ao mesmo tempo que algumas das melhores músicas em muitos anos estão nesta primeira parte.

Something Wicked Part 1 possuí trechos da trilogia original, fazendo uma eficiente ligação com o passado, também é impossível não se empolgar com a emocional A Charge To Keep (um show a parte de Owens e Schaffer) ou sair chutando tudo com a forte Ten Thousand Strong, aliás gostem ou não, Tim Owens demonstra maturidade ao encaixar sua voz com sabedoria, assim como ouvir Brent Smedley comandar a bateria evidencia que seu estilo casa com perfeição com as bases de Jon Schaffer.

Outros grandes momentos podem ser ouvidos nas melodias contagiantes de Order Of Rose, na longa The Clouding e na feroz Framing Armaggedon,uma das músicas mais pesadas da banda, entretanto em meio a 19 faixas, fica difícil destacar positivamente mais que isso, sendo que o restante do conteúdo se encontra entre vinhetas instrumentais e outras canções (umas boas outras nem tanto).

A velha questão do "menos é mais" afeta o trabalho, que consegue inserir o ouvinte dentro da saga dos Seths e sua luta contra a humanidade, mas musicalmente o excesso de pompa e pretensão atrapalha. 

Sendo assim o maior problema de Framing Armaggedon não foi a troca dos integrantes e sim o direcionamento que Jon Schaffer deu ao disco, o que poderia ser um clássico tornou-se algo excessivamente pretensioso e mediano.

A Charge To Keep (Wacken 2007)




Ten Thousand Strong




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A Banda

Jon Schaffer (Guitarra, Baixo e Teclados)
Tim Owens (Vocais)
Troy Steele (Guitarra)
Tim Mills (Guitarra)
Dennis Hayes (Baixo)
Brent Smedley  (Bateria)

Schaffer, Barlow, Steele, Smedley e Vidales

Após uma épica apresentação no Wacken Open Air em Agosto de 2007, no qual o Iced Earth foi um dos headliners, Schaffer cede as pressões e inicia conversas com Matt Barlow para articular seu retorno a banda, em Dezembro de 2007, os boatos foram confirmados, Tim Owens estava fora, e Barlow se encarregaria dos vocais da segunda parte de Something Wicked, que já estava quase todo gravado desde a conclusão da primeira parte.



The Crucible Of Man: Something Wicked Part 2 (2008)




A volta de Matt Barlow aumentou as expectativas dos fãs em relação ao vindouro registro, no estúdio  foi utilizado a mesma banda para gravar a parte instrumental, ficando apenas os vocais para serem refeitos, ou seja, dificilmente teríamos um resultado sensivelmente diferente do que ouvimos no antecessor.

E não deu outra, The Crucible Of Man é musicalmente mais fraco que Framing Armaggedon, inclusive com uma atuação apagada de Matt, que tem seus grandes momentos no disco mas não consegue nem de perto repetir as perfomances dos tempos de The Dark Saga e Something Wicked This Way Comes.


Apesar disso, não se trata de um álbum ruim ficando ao lado de Horror Show e de Framing Armaggedon como discos medianos com grandes momentos espalhados no decorrer de suas 15 faixas.

A épica intro In Sacred Flames é digna de aplausos seguida pela empolgante  Behold The Wicked Child, o ínicio promissor se perde em meio a dois interlúdios que não dizem muito ao ouvinte (Minions Of The Watch e The Revealing) após a esfriada no clima, a emblemática A Gift or a Curse? é um deleite aos ouvidos, com vocais certeiros de Barlow e uma levada de percussão circundada de ótimas guitarras acústicas e elétricas, experimentalismo na medida certa, combinado a um ápice típico do Iced Earth.

Continuando os bons momentos, I Walk Alone foi o primeiro single, e mostrou a banda revisitando seu auge com uma empolgante levada, de refrão fácil e explosivo. Habringer Of Fate engrena de vez com a dupla Schaffer/Barlow acertando o alvo, todos esperavam momentos como esse quando a parceria foi refeita, melodias que grudam na cabeça e muito feeling nas linhas vocais.

Entretanto, quando parceira que o disco ia deslanchar aparecem momentos mais mornos que emperram um voo mais alto, jogando a empolgação no chão. Só na absolutamente clássica  Come What May presenciamos a banda a todo vapor, definitivamente não brincaram em serviço, a referida faixa é a melhor canção das duas partes tornando-se um clássico absoluto da turma de Jon Schaffer, sete minutos de emoção e um grande trabalho de guitarras e do coro de voz perfeitamente encaixado.

Ao final de Crucible Of Man notamos que o potencial para um grande clássico existia mas os excessos derrubaram a qualidade, assim como em seu antecessor. Talvez se Jon juntasse os melhores momentos de cada disco, e adicionasse algumas das boas vinhetas e interlúdio, teríamos um único álbum de qualidade excelente ao invés de dois discos razoáveis e cansativos.

Live 2008




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A Banda

Jon Schaffer (Guitarra, Baixo e Teclados)
Matt Barlow (Vocais)
Troy Steele (Guitarra)
Tim Mills (Guitarra)
Dennis Hayes (Baixo)
Brent Smedley  (Bateria)

Ao fim da turnê de The  Crucible Of Man, Matt Barlow se despede oficialmente do Iced Earth, o que acabou sendo muito bom para Jon Schaffer que se viu obrigado e redirecionar seus esforços para trazer sangue novo a banda, e principalmente, recolocar tudo nos eixos em termos de proposta sonora. 

A chegada do vocalista canadense  Stu Block foi essencial para os próximos passos vitoriosos do Iced Earth, mas isso fica para a última parte da discografia comentada.

Até Lá!


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