7 de jun. de 2016

Test Time Review #18 - LOAD (1996 - Parte 1)




A proposta do TTR é revisar discos que os colaboradores do blogs tenham de preferência acompanhado o lançamento e anos depois praticam quase uma regressão para avaliar os mais diversos aspectos do então lançamento. 

Revisitar discos que você acompanhou no passado é interessante pelo fato de quase sempre despertar impressões bem diferentes do que as anteriores, e nada melhor do que dois discos MUITO polêmicos de uma banda gigante para um post como esse, sim senhores o Metallica, minha banda predileta vai debutar no TTR. 


LOAD e ReLOAD foram gravados na mesma sessão e por motivos de finalização e acabamento foram separados no lançamento, mas as idéias primárias foram todas gravadas entre Maio e Fevereiro de 1995,(foram quase 30 músicas na mesma época) por isso teremos parte 1 com Load e parte 2 com ReLoad.


A Banda

James Hetfield (Vocal e Guitarra)
Lars Ulrich (Bateria)
Kirk Hammet (Guitarra)
Jason Newsted (Baixo)

O Contexto

O estrago que o Black Album (Metallica -1991) causou foi impressionante, o disco foi um sucesso absurdo e transformou o Metallica na banda mais popular do Heavy Metal e sinalizou a primeira grande mudança sonora na carreira com a adição de Bob Rock como produtor. Uma turnê de divulgação enorme girou milhões de cópias vendidas e centenas de shows. Quatro anos depois, o Metallica reunia os cacos herdados de um giro global extenso e algumas idéias gravadas na estrada deram inicio ao vindouro sexto disco de estúdio.

Olhando no universo fora do mundo do Metallica o rock pesado vivia uma ressaca absurda, para se ter uma idéia de 1991 a 1995 período entre o lançamento e fim do ciclo do Black Álbum aconteceram inúmeras mudanças na cena musical, o Hard Rock californiano estava totalmente decadente, a explosão do Thrash Metal da Bay Area já era passado após o pico entre 89 e 92, o grunge já havia nascido, chacoalhado o mundo e morrido, a onda do Rock e Metal Industrial dava seus passos mais largos no mainstream.

Em meio a tantas mudanças na cena era natural que o a banda fosse influenciada a se manter segura dentro do seu universo de sucesso, mas o quarteto tinha outros planos, a saturação comercial, amadurecimento dos músicos e busca por novas sonoridades mergulharam a banda em um projeto ambicioso.


As impressões do passado

É impossível não fazer uma citação pessoal aqui, quando ouvi Load pela primeira vez (confesso que ouvi ReLoad antes) em 1997 não tinha muita noção do que era o mundo da música pesada, muito menos de como os músicos lidavam com suas influências e de como a crítica e o público iam avaliar tudo isso, afinal, eu sequer tinha idéia da repercussão de tudo isso.

Load chocou os fãs e causou um impacto enorme em toda música pesada, a divulgação foi ambiciosa, caminhões de sons passavam nas ruas dos EUA tocando o novo disco com promoção do Metclub (fan club do Metallica) por exemplo, muitos fãs antigos decretaram a morte da banda, mas em contrapartida eles angariaram muitos novos admiradores.

Musicalmente Load é um caldeirão de influências, Heavy Metal, Blues, Southern Rock, Rock Alternativo, Grunge envolto de um clima de ressaca absurda, as letras pessoais, o conceito de arte diferente, roupas diferentes,cabelos cortados (sim, as pessoas se importavam com isso) e muitas entrevistas polêmicas, transformaram o disco em um dos mais comentados e difamados da história.

Trata-se de um trabalho é extenso, mais de 70 minutos, e conta com alguma das mais interessantes músicas do Metallica, a paulada Ain't My Bitch é pesada e raivosa, Until Its Sleeps mergulha no grunge, King Nothing escancara a influência de Stoner, a alternativa Hero Of The Day (péssima por sinal) mostra timbres diferentes, Bleeding Me é um épico southern/metal estonteante, Mama Said é quase que uma balada solo de Hatfield imersa no country e The Outlawn Thorn fecha o petardo combinando Black Sabbath com Lynyrd Skynyrd.

Bem esses são os hits do disco, que por sua vez continha muitos fillers (músicas feitas para preencher o disco) mas que apesar de frequentemente esquecidas foram importantes para contextualizar a sonoridade praticada,  2x4, Cure e Wasting My Hate se destacam com a ênfase em grooves mais profundos e experimentações diversas em termos de timbres e arranjos. 

O Metallica literalmente abandonou os rótulos de um passado impecável e mergulhou em uma jornada incerta, drogas, bebedeiras, decadência da vida na estrada e brigas de ego explodiram em meio a tantas coisas acontecendo com repercussão contestável. Definitivamente o custo de ser a maior banda do mundo era bem alto.

Como o álbum envelheceu?

Para quem, como eu, teve o contato mais aprofundado com o Metallica na fase LOAD/ReLOAD a musicalidade soa natural, afinal, foi assim que aprendi a gostar da banda, mas para quem os acompanhava desde os áureos anos 80 foi um baque, porém acredito que hoje muita gente mudou seu conceito sobre essa época.

Load foi massacrado por vinte anos por uma parte da comunidade do Heavy Metal, afinal a banda que capitaneou o Thrash Metal já demonstrava claramente que estava em outra praia e não dava a mínima para as opiniões alheias, afinal LOAD já batera 4 discos de platina no mercado americano e seus clipes pipocavam na MTV.

Ouvir o resultado de tantas mudanças tantos anos depois é uma experiência incrível, Hetfield mudou seu estilo de cantar, suas bases de guitarra continuavam pesadas, mas mais orientadas a riffs Hard Rock, Lars Ulrich já mergulhado no lado bussiness da banda simplificou (até demais) o jeito de tocar, mas sabe criar ritmos e climas como poucos, Kirk Hammet usou e abusou de distorções Wha Wha, pedaleiras sem abrir mão do ótimo senso melódico, e Jason Newsted comanda os grooves com seu baixo ecoando em toda a gravação. 

Confesso que o número grande de músicas virou um inimigo de LOAD, que poderia ser mais enxuto, e fica claro que muitas canções saíram de Jams improvisadas, que na época eram vista com desdém, mas quando prestamos mais atenção notamos a intenção da banda em escancarar a mudança de paradigma ao experimentar em novos territórios.

O que mais me agrada nessa fase e que só percebi após tantos anos é que mesmo se esforçando para ser diferente, o Metallica preservou seu DNA de fazer as coisas de forma sombria e introspectiva, mudaram o cabelo, mudaram a afinação, adicionaram toneladas de novas influências mas a essência foi preservada.  


LOAD (1996)


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